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Notícias e reflexões sobre planejamento e questões sociais nas cidades brasileiras

Cidade de São Paulo chega aos 7 milhões de veículos

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Clayton de Souza/AE

Vítima de ações públicas que, ao longo da história, privilegiaram o transporte individual em detrimento do coletivo, a cidade de São Paulo bateu em março uma marca histórica, no mau sentido. A capital chegou aos 7 milhões de veículos registrados no Detran. A maior parte deles – exatos 5.124.568 – são automóveis. O segundo maior grupo é o das motos, com 889.164 veículos. Há ainda 718.450 caminhonetes, micro-ônibus e outros utilitários e 42.367 ônibus.

Os números são assustadores por qualquer ângulo que se olhe. A cidade tem 10.659.386 habitantes, de acordo com o Censo de 2010. Se a pirâmide etária da cidade seguir o padrão nacional, cerca de 15% da população tem menos de 18 anos e não pode ter um carro. Sem contar os ônibus, a conta aproximada é a de 0,77 carro por pessoa. A ideia de muitas pessoas de que um dia o grande congestionamento virá e ninguém conseguirá sair de casa porque todas as ruas estarão tomadas pelos carros não parece longe.
Que a cidade está presa a esse modelo de mobilidade há décadas é impossível discordar. Mas usar o passado para justificar os erros do presente está ficando fora de moda. Nós somos vítimas de escolhas erradas de governantes desde Prestes Maia, nas décadas de 30 e 40, mas continuamos fazendo as escolhas erradas. A construção da terceira pista na Marginal Tietê é o exemplo mais bem-acabado de como a orientação continua sendo pró-veículo, e não pró-mobilidade.

 
É importante citar, no entanto, que não são apenas as escolhas urbanísticas que contam. A indústria mais forte do país é a automobilística. A forte produção do setor foi um dos fatores que impediu que o Brasil entrasse na crise de 2009. Não há, portanto, opções fáceis aqui. É provável que qualquer decisão da Prefeitura ou do Estado que possa prejudicar a circulação de automóveis sofra a pressão da indústria. Esse é o jogo.

 
Para mudar essa lógica, o esforço deve ser conjunto. Prefeituras devem ordenar o trânsito e dar espaço para mais transporte coletivo e não-motorizado. Estados precisam investir em mais transporte de massa. E a União precisa buscar um modelo de desenvolvimento no qual as montadoras percam importância relativa para o país. Do contrário, o Brasil estará caminhando para ter uma porção de ‘são paulos’.

Written by thalitapires

6 de abril de 2011 às 01:18

3 Respostas

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  1. […] parem na faixa em 11 cruzamentos. Isso, na verdade, já deveria vir no pacote de uma cidade com 7 milhões de veículos. Tampouco é apenas uma questão de segurança. Pedestre não é um ente separado do trânsito, um […]

  2. nem digo ciclovia, que numa cidade em que faz calor e chove como SP bicicleta como meio de transporte é difícil. Mas corredor de ônibus ainda rola. E há anos não temos um novo…

    thalitapires

    6 de abril de 2011 at 23:49

  3. Infelizmente os governos não tem o menor interesse em começar a resolver nenhum problema… só obras e medidas que, em 4 anos, possam ser “entregues” ou usados como propaganda.
    Pergunta que deveria ser feita: É mais fácil, rápido e barato fazer ciclovias ou pontes estaiadas??
    Pergunta real: E o que dá mais visibilidade (= votos)??

    Bruno Scuracchio

    6 de abril de 2011 at 21:17


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